domingo, junho 15, 2025

O velho orfeu africano (oricongo). Ilustração de Jean-Baptiste Debret. Ano de 1826


Na imagem, um grupo de escravos africanos no Brasil aprecia a música do oricongo, hoje conhecido como berimbau.

Este homem, provavelmente de Angola é músico e vocalista, já que uma variante da imagem é intitulada "O Cantor Cego". Comentando esta aquarela, Debret diz que: "os negros benguelas, de Angola, devem ser citados como os mais musicais e são principalmente notáveis pelos instrumentos que fabricam: a marimba, a viola de angola, espécie de lira de quatro cordas, o violão, que é um coco atravessado por um bastonete de latão que serve de cabo e no qual amarra uma única corda de latão presa a uma cravelha e da qual, pela pressão alternada do dedo, tiram sons variados com uma espécie de arco pequeno; e finalmente o urucungo, aqui representado. Este instrumento se compõe da metade de uma cabaça aderente a um arco formado por uma varinha curva com um fio de latão sobre o qual se bate ligeiramente. Pode-se ao mesmo tempo estudar o instinto musical do tocador, que apóia a mão sobre a frente descoberta da cabaça, a fim de obter pela vibração um som mais grave e harmonioso. Este efeito, quando feliz, só pode ser comparado ao som de uma corda de tímpano, pois é obtido batendo-se ligeiramente sobre a corda com uma pequena vareta que se segura entre o indicador e o dedo médio da mão direita".

Graças a Debret, sabemos que o berimbau era chamado no Rio de Janeiro de sua época de Oricongo.

Fonte: https://www.instagram.com/brazil_imperial/

domingo, junho 01, 2025

Onde ficava o maior cortiço do Rio, o Cabeça de Porco?

Rua Barão de São Félix, onde funcionou o mais famoso cortiço do Rio no século XIX.

A estalagem que abrigou cerca de 2 mil pessoas em condições insalubres acabou dando origem a um termo que, mais de um século depois, ainda é sinônimo de precariedade urbana.

Quem passa hoje pelo Terminal Américo Fontenelle, atrás da Central do Brasil, no Centro do Rio, talvez não imagine que ali funcionou, até o fim do século XIX, o maior cortiço da cidade — e um dos mais simbólicos da história urbana do Brasil. No número 154 da problemática Rua Barão de São Félix, uma estalagem que abrigou cerca de 2 mil pessoas em condições insalubres acabou dando origem a um termo que, mais de um século depois, ainda é sinônimo de precariedade urbana: Cabeça de Porco.

O cortiço Cabeça de Porco foi demolido em 26 de janeiro de 1893, sob aplausos de parte da imprensa e olhares atentos da população, que se acotovelava para assistir à cena. A ação, adotada pelo então prefeito Barata Ribeiro, foi tratada como um espetáculo, já que apontava a necessidade da derrubada para a abertura do Túnel João Ricardo, que liga a Central à Gamboa.

Área do Cortiço Cabeça de Porco.

O nome não era ironia

Na entrada do cortiço havia um grande portal ornamentado com uma cabeça de porco em gesso — uma ironia aos tradicionais leões de chácara que enfeitavam a entrada dos antigos casarões do Rio. Arcos com figuras de animais em gesso eram comuns na época, mas ali o porco selava, com sarcasmo, a condição dos que viviam dentro. O Cabeça de Porco funcionou por cerca de 50 anos. Era quase um bairro dentro da cidade: tinha um corredor central, duas alas com mais de cem pequenas casas e outras “ruas” internas, nos fundos, já na encosta do atual Morro da Providência. No portão, uma cabeça de porco em ferro ornamentava a entrada, e deu nome à construção. A expressão, que virou sinônimo de cortiço no vocabulário popular, nasceu ali.

Histórias curiosas rondam o Cortiço. Uma delas é que o terreno onde as casas pobres foram erguidas seria de Luís Filipe Maria Fernando Gastão, o conde d’Eu, que era genro de D. Pedro II.

A habitação coletiva surgiu como resposta à enorme demanda por moradia entre trabalhadores livres, ex-escravizados e imigrantes pobres que, diante da necessidade de trabalhar diariamente, se concentravam no centro da capital. Cortiços como o Cabeça de Porco floresceram nas décadas de 1850 e 1860, impulsionados por especuladores que enxergaram oportunidade no aluguel de cômodos baratos. Em 1884, só na freguesia de Santana, onde ficava o cortiço, já havia quase 400 estalagens desse tipo.

Abertura do Túnel João Ricardo.

Campanha de ‘higienização’

Mas, a partir da segunda metade do século XIX, os cortiços passaram a ser alvos preferenciais de campanhas de “higienização” urbana. Crescia o temor entre as elites de que essas áreas pudessem se tornar focos de epidemias — e de revoltas. Pressionada por esse discurso e também pela especulação imobiliária, a Intendência Municipal decidiu extinguir o Cabeça de Porco. Ignorou apelos dos donos e de quem vivia lá. De “presente”, os moradores receberam apenas os restos da demolição.

Com pedaços de madeira e escombros, muitos subiram o Morro da Providência e improvisaram novas moradias. Estava lançado o embrião de uma das primeiras favelas do Rio.

Cabeça de Porco.

A Revista Illustrada, publicação de crítica política e social da época, reagiu com ironia à destruição do cortiço. Chamou o prefeito de “barata que engole um porco pela cabeça” e ironizou o foguetório que acompanhou a demolição. Para além da metáfora, a frase mostrava o contraste entre o espetáculo da remoção e a realidade dura dos despejados.

Texto de Victor Serra.  

http://diariodorio.com

Jornalista. Carioquíssimo da gema. Frequentador assíduo dos bares, ruas, esquinas e encruzilhadas desse Rio.

segunda-feira, maio 26, 2025

Imigrantes Italianos trabalhando nas Fazendas de Café de São Paulo, 1880


Imigrantes Italianos trabalhando nas Fazendas de Café de São Paulo, década de 1880. Fotografias públicadas pelo Livro: "Le Bresil" de autoria do economista e historiador francês E. Levasseur, e com a colaboração de brasileiros ilustres como o barão do Rio Branco, Eduardo Prado e André Rebouças no ano de 1889.


Nos anos finais da Escravidão no Brasil, surgiu no oeste paulista um grupo de fazendeiros que, premido pela falta de mão de obra escrava, defendeu o uso da mão de obra livre nas plantações de café, opondo-se politicamente aos fazendeiros do Vale do Paraíba, donos de grandes plantéis de escravos.

Pouco antes, o Reino de Itália havia passado pelas guerras pela Unificação Italiana. Com o fim destas guerras, a economia italiana se encontrava debilitada, com altas taxas de crescimento demográfico e de desemprego. Os Estados Unidos (maior receptor de imigrantes) passaram a criar barreiras para a entrada de estrangeiros. Tais fatores levaram, a partir da década de 1870, ao início da maciça imigração de italianos para o Brasil.


Nas Fazendas os colonos recebiam um pagamento fixo pelo cultivo dos pés de café e um pagamento variável pela quantidade de frutos colhidos. Além disso, podiam produzir alimentos para sustento próprio nas fazendas e vender o excedente. O trabalho não era exclusivo dos homens: crianças e mulheres italianas formavam parte significativa dos trabalhadores.


Os fazendeiros, por sua vez, passaram a morar nas cidades. Além disso, muitos imigrantes deixaram as lavouras e se tornaram marceneiros, ferreiros, alfaiates, padeiros, comerciantes, entre outros ofícios, e todo este movimento favoreceu a construção de calçadas e praças nas cidades e o crescimento de indústria, comércio e serviços.

Surgiram então pessoas que se destacaram. Exemplos notáveis foram Francesco Matarazzo, criador do maior complexo industrial da América Latina do início do século XX, tendo sido um dos marcos da modernização no Brasil e Rodolfo Crespi, que construiu um dos maiores grupos industriais do Brasil na mesma época. 

Fonte: Angelo Trento (1989). Do outro lado do Atlântico: um século de imigração italiana no Brasil.

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